Repositório Institucional da Fernando Pessoa
Recent Submissions
Desregulação emocional: conflitos e oportunidade – um estudo sobre a ressignificação das emoções
Publication . Carignani, Andreia Maria Santos; Cunha, Pedro
O presente estudo qualitativo investigou a relação entre conflito e desregulação emocional, por meio da perceção de 11 adultos que residem em Portugal, sendo também analisadas as oportunidades para a ressignificação das emoções, considerando o contexto de nascimento e criação dos participantes. Buscou-se compreender os desafios na efetividade das respostas emocionais decorrentes da interação do organismo, indivíduo e ambiente. Para tal, foram realizadas entrevistas semiestruturada, com a aplicação de um Guião de 11 questões, aplicado remotamente, através da plataforma Zoom, o que tornou possível a realização deste estudo, já que os participantes residiam em partes diferentes, todos dentro de Portugal Continental. Os participantes relataram diferentes experiências relacionadas ao manejo do conflito e de como sentiam suas emoções, tanto no momento do conflito quando foram convidados a pensar na possibilidade de já terem treinado as habilidades descritas por Linehan. O estudo também explorou como o treino de habilidades, estudado por Linehan (2018), pode contribuir para respostas emocionais mais adaptativas diante de situações desafiadoras. Os dados adquiridos aprofundam o conhecimento sobre regulação das emoções, ressaltando a importância de incluir essa temática em contexto de famílias disfuncionais ou durante separações conjugais. O treino de habilidades, especialmente para indivíduos em situação de risco, pode ser uma ferramenta valiosa para a sociedade. Apesar das limitações inerentes, o estudo demonstra uma elevada adequação dos indivíduos mesmo diante de episódios ocasionais de desregulação ocasional, tornando-se mais competente em suas habilidades emocionais.
Violência sexual baseada em imagens não consensuais: atitudes e crenças e experiência de vitimação em Portugal
Publication . Castro, Telma Sofia Gonçalves; Sani, Ana Isabel
A presente dissertação analisa o fenómeno do Abuso Sexual Baseado em Imagem (ASBI), uma forma crescente de ciberviolência, caracterizada pela divulgação, criação ou ameaça de partilha de conteúdos íntimos sem consentimento. A investigação integra dois estudos complementares: uma revisão sistemática da literatura internacional e um estudo empírico centrado na realidade portuguesa. A revisão sistemática teve como objetivo analisar as crenças, atitudes e prevalência do ASBI, reunindo estudos publicados entre 2017 e 2024. Os resultados revelaram a persistência de crenças que culpabilizam a vítima e legitimam o comportamento do agressor. Identificou-se uma relação direta entre atitudes minimizadoras e práticas de ASBI, evidenciando a influência de normas sociais e estereótipos. Apesar disso, confirmou-se que o ASBI é uma realidade transversal e multifacetada, com implicações relevantes para a saúde mental das vítimas e para a necessidade de intervenção social e jurídica. O estudo empírico, realizado com uma amostra de 252 participantes, teve como objetivo analisar as crenças e atitudes face ao ASBI, bem como a prevalência e os impactos da vitimação. A maioria dos participantes rejeitou explicitamente o ASBI, mas persistem crenças conservadoras, sobretudo entre os homens e entre vítimas. Verificou-se uma tendência para a culpabilização da vítima e para a aceitação de ideias como a inevitabilidade da divulgação de conteúdos íntimos. No que respeita à prevalência, 8.7% dos participantes reportaram ter sido vítimas de ASBI, sendo as ameaças de divulgação o comportamento mais comum. Os agressores identificados foram maioritariamente homens (81.8%) e próximos da vítima (parceiros ou amigos). As motivações mais referidas incluíram controlo, imaturidade e vingança, refletindo dinâmicas de poder nas relações íntimas. Os impactos da vitimação revelaram-se significativos: humilhação, tristeza, insegurança, danos e dificuldades nas relações interpessoais e no contexto profissional. Tais consequências reforçam a necessidade de uma resposta multidimensional, que integre apoio psicológico, jurídico e educacional. Em conjunto, os dois estudos sublinham a urgência de investir na educação para o consentimento, em campanhas de sensibilização, na formação de profissionais e na criminalização eficaz de todas as formas de ASBI. No contexto português, onde esta forma de violência ainda é pouco estudada, torna-se imperativo aprofundar o conhecimento existente, de forma a desenvolver respostas adequadas às vítimas e prevenir futuras ocorrências.
Percepção da parentalidade e psicossintomatologia: estudo com pais/mães e diferentes tipologias familiares
Publication . Silva, Tatiana Félix Lima da; Fernandes, Ângela
A parentalidade constitui uma das principais dimensões do ciclo vital adulto, contudo, traz responsabilidades adicionais e desafios emocionais que podem impactar o bem-estar psicológico dos progenitores. A adoção de estilos educativos positivos e a qualidade das relações familiares podem ser afetadas pela saúde mental dos progenitores. O objetivo deste estudo é investigar a relação entre os estilos educativos parentais e a sintomatologia psicológica dos progenitores em diferentes tipos de estruturas familiares. Trata-se de um estudo quantitativo, de natureza correlacional e transversal. A amostra é composta por 139 progenitores com idades compreendidas entre os 23 e os 77 anos (M = 46.16; DP = 8.55), de ambos os sexos. Foi utilizado um questionário sociodemográfico e clínico e dois instrumentos: o Brief Symptom Inventory 18 (BSI-18) e o Egna Minnen Betraffande Uppfostran – Parents (EMBU-P). Os resultados revelaram correlações negativas significativas entre os sintomas ansiosos e depressivos e o suporte emocional, bem como com o grau de confiança parental. Níveis elevados de psicossintomatologia associaram-se a maior stress parental, sendo que sintomas depressivos revelaram-se particularmente associados a pior relação emocional, menor envolvimento e comunicação com os filhos. Famílias monoparentais apresentaram níveis superiores de psicossintomatologia do que as famílias nucleares. Assim sendo, os resultados evidenciam a influência da saúde mental dos progenitores na forma como percecionam e exercem a parentalidade e apontam para a necessidade de estratégias de apoio psicológico e intervenção familiar, especialmente em contextos vulneráveis, promovendo práticas educativas mais saudáveis e relações familiares mais equilibradas.
Psicossintomatologia e estilos parentais: relação entre somatização, ansiedade e depressão e a perceção da parentalidade
Publication . Matos, Sara Isabel Mesquita; Fernandes, Ângela
O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da psicossintomatologia parental, nomeadamente sintomas de somatização, depressão e ansiedade, na perceção dos estilos parentais adotados. Foi seguido um desenho metodológico quantitativo, descritivo e correlacional, com a participação 141 participantes que exerciam funções parentais. A recolha de dados realizou-se através de questionário online, com seções sobre dados sociodemográficos, o Inventário de Sintomas Psicopatológicos BSI-18 e o questionário EMBU-P, que avalia a perceção parental nas dimensões de suporte emocional, rejeição e tentativa de controlo. Foram formuladas três hipóteses: (H1) Os estilos parentais (suporte emocional, rejeição e sobreproteção) predizem significativamente os níveis de psicossintomatologia dos participantes; (H2) Estilos parentais negativos, nomeadamente a rejeição e a sobreproteção, predizem significativamente níveis mais elevados de psicossintomatologia; (H3) Estilos parentais positivos, como o suporte emocional, predizem significativamente níveis mais baixos de psicossintomatologia. A análise estatística, com recurso a regressões lineares simples, revelou que os níveis de psicossintomatologia foram predominantemente baixos a moderados, e a perceção das práticas parentais foi maioritariamente positiva, com altos níveis de suporte emocional e níveis moderados de rejeição e controlo. Os resultados indicaram uma associação estatisticamente significativa entre níveis elevados de psicossintomatologia, somatização, depressão, ansiedade e índice geral de gravidade, e maior perceção de comportamentos parentais de rejeição. Em contrapartida, não se verificaram associações significativas com o suporte emocional nem com a tentativa de controlo. Estes resultados contribuem para a compreensão dos mecanismos através dos quais a psicossintomatologia interfere na perceção dos estilos parentais. Contudo, esta investigação apresenta limitações, como o uso exclusivo de autorrelatos, a homogeneidade da amostra e a ausência de controlo de variáveis sociodemográficas, o que restringe o vigor na generalização dos resultados. Futuros estudos deverão adotar metodologias de análise mais robustas, incluir múltiplas amostras diversificadas, recolha longitudinal e aprofundar os processos subjacentes à parentalidade em contexto de sofrimento psicológico.
Relação entre bem-estar (espiritual e psicológico) e saúde mental em adultos
Publication . Martins, Sandra Marisa Soares; Meneses, Rute; Gomes, Inês
O presente estuda visa analisar o de Bem-Estar Psicológico, Bem-Estar Espiritual e a Saúde Mental em adultos portugueses e explorar a relação entre eles.
Por este tema despertar um grande interesse científico foi importante desenvolver este estudo como forma de aprofundar e adquirir novos conhecimentos.
Inicialmente, é feito um enquadramento conceptual do bem-estar geral, que serve de base para a análise de duas dimensões amplamente discutidas na literatura: o bem-estar subjetivo e o bem-estar social. Este percurso teórico, orientado por uma lógica de afunilamento, permite uma transição natural para as dimensões centrais deste estudo: o bem-estar psicológico e o bem-estar espiritual, cujo impacto na saúde mental tem vindo a suscitar um interesse crescente.
O estudo contou com um total de 101 participantes, todos adultos portugueses e com idades compreendias entre os 18 e os 61 anos. Os dados foram recolhidos com recurso a um Questionário Sociodemográfico, Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP) – Versão Portuguesa, Questionário de Bem-Estar Espiritual (SWBQ) – Versão Portuguesa e o Internacional Mental Health Inventory de 5 itens. Os resultados demonstraram uma correlação positiva moderada e estatisticamente significativa entre o MHI-5 e o EBEP Total, indicando que uma melhor saúde mental percebida está associada a níveis mais elevados de bem-estar psicológico. Também se observou uma correlação positiva entre o MHI-5 e o bem-estar espiritual total, em particular com a dimensão de Espiritualidade Pessoal, embora as dimensões Transcendente, Comunitária e Ambiental do SWBQ não tenham apresentado correlações significativas com a saúde mental percebida. Estes dados confirmam que o bem-estar psicológico e espiritual (sobretudo na sua vertente pessoal) são fatores relevantes para a saúde mental, ainda que o impacto da espiritualidade possa assumir formas distintas consoante o contexto cultural e geracional.
Este estudo não representa apenas uma contribuição académica, mas também um percurso pessoal de aprendizagem e reflexão. Foi uma oportunidade para reconhecer que cuidar da saúde mental implica olhar para o ser humano na sua totalidade — nas suas emoções, valores, relações e significados. Que este trabalho possa servir de base para futuras investigações, mas também para inspirar intervenções mais humanas e integradas, onde o bem-estar não seja apenas uma meta, mas um caminho.
