Browsing by Author "Mateus, Sara Daniela Moura"
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- Framing, mitos e opiniões: influência na credibilidade de vítimas de violência sexualPublication . Mateus, Sara Daniela Moura; Sani, Ana IsabelO presente estudo originou de uma inquietação fundamental: como é que a forma como os media retratam casos de violência sexual e os mitos de violação afetam a credibilidade que atribuímos às vítimas? Para responder a esta pergunta, a investigação desenvolveu-se em duas vertentes que se complementam: uma revisão sistemática da literatura e um estudo empírico com jovens portugueses. Na primeira parte, foi realizada uma revisão sistemática de 14 estudos publicados entre 2015 e 2025, que analisaram o impacto do framing e dos mitos de violação na perceção da credibilidade das vítimas. Os resultados revelaram que os discursos mediáticos, sobretudo em contextos digitais, operam como filtros interpretativos que reforçam estereótipos de género, descredibilizam as vítimas e humanizam os agressores. Elementos como o consumo de álcool pela vítima, o tempo demorado até à denuncia, ou a ausência de resistência física foram fatores frequentemente associados a atribuição de menor credibilidade. Além disso, observou-se uma clara assimetria moral que penaliza comportamentos femininos fora das normas tradicionais e favorece agressores com elevado estatuto social. Também os homens vítimas enfrentam descrédito acentuado, fruto de mitos específicos associados à masculinidade hegemónica. Na segunda parte, foi desenvolvido um estudo empírico, com 131 jovens adultos portugueses. Foi utilizada uma metodologia quantitativa com componentes qualitativas, através da aplicação de um questionário online contruído com base na literatura. Os participantes foram expostos a diferentes versões de um cenário de violência sexual, manipulando variáveis como o género da vítima, a presença de mitos e comentários. O questionário foi construído de raiz, sendo divido em duas partes com respostas fechas e uma questão aberta para cada vítima, uma feminina e uma masculina. Os resultados demonstraram uma tendência generalizada de apoio às vítimas, contrariando a literatura mais pessimista sobre a aceitação dos mitos de violação. No entanto, este apoio revelou-se ambivalente: persistem formas subtis de dúvida e questionamento da vítima, como o consumo de álcool, o tempo até à denúncia ou a falta de existência de força física. Esta culpabilização subtil sugere que os mitos de violação evoluíram para formas menos explícitas, mas ainda presentas. A análise de género evidenciou que as participantes femininas mostraram níveis mais elevados de perceção de credibilidade na vítima, em contraste com os homens, que se revelaram mais reticentes, sobretudo no caso da vítima feminina. Conclui-se que, apesar de haver indícios de mudança e maior sensibilização, as estruturas cognitivas subjacentes aos mitos de violação continuam presentes, exigindo estratégias de intervenção mais profunda e culturalmente contextualizadas.