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- Da pena privativa de liberdade: uma análise sobre a perceção social e as consequências nos indivíduos reclusos em prisõesPublication . Ferreira, Adriane Ristori; Jólluskin, GloriaA extensa literatura que aborda prisões, ressocialização e suas limitações oferece um panorama consolidado nesses campos de estudo. Contudo, a importância da pesquisa empírica nos domínios relacionados ao sistema prisional é inegável. Nesse contexto, a investigação prática desempenha um papel crucial na edificação de um novo conhecimento criminológico, superando as generalizações preexistentes. Ela contribui para a construção de um entendimento que não se limita a universalidades abstratas, mas que se torna específico, concreto e profundamente ancorado no contexto espaço-temporal atual (Braga, 2014). Neste sentido, a presente dissertação de mestrado, dividida em três capítulos, foi desenvolvida tendo em vista a ineficácia da ressocialização prisional (Wacquant, 2017), a existência de pouca informação e produção acadêmica empírica sobre os efeitos na saúde física e psíquica dos indivíduos reclusos (Augsburger; Neri; Bodenmann; Gravier; Jaquier; Clair, 2022) (Shantz & Frigon, 2010), bem como a necessidade de trazer esse tema para reflexão e consciência da sociedade (Johnston & Wozniak 2021). Desta forma, o primeiro capítulo consiste numa revisão sistemática da literatura que aborda a saúde física e mental de indivíduos reclusos em prisões. A pesquisa foi realizada através da base de dados da B-on, por artigos científicos publicados no período de 2000 a 2023. Chegou-se à conclusão de que o cumprimento da pena privativa de liberdade em estabelecimentos prisionais afeta a saúde dessas pessoas, e essa deterioração tem um impacto significativo em seus comportamentos durante a prisão, bem como na eficácia de sua reintegração social. O segundo capítulo do presente trabalho consiste no estudo empírico realizado, integrado no projeto da Prof. Doutora Isabel Silva, Prof. Doutora Glória Jólluskin e Prof. Doutor Joaquim Ramalho na Universidade Fernando Pessoa, Dr. Marcos Taipa Ribeiro e Dra. Teresa Lopes na Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e Prof. Doutor Paulo Cardoso na Universidade Fernando Pessoa e Universidade Lusíada. Com base na aplicação presencial do questionário "Qualidade de Vida em Contexto Prisional", o estudo envolveu 109 indivíduos cumprindo pena privativa de liberdade no estabelecimento prisional do Porto. O objetivo principal foi avaliar e classificar a qualidade de vida dessas pessoas na instituição. Os resultados indicaram que a população carcerária apresenta um estado de saúde mental moderado, insatisfação com as suas condições de vida, com limitado conhecimento sobre seu tratamento e ausência de participação em programas de ressocialização. O terceiro capítulo, por sua vez, oferece uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de fundamentar a conexão entre a importância da opinião pública em relação às condições da população reclusa em um estabelecimento prisional. Nesse contexto, a literatura destacou que a percepção social desempenha um papel significativo na coesão social, influenciando a elaboração de políticas criminais que estejam em conformidade com os valores da sociedade em um sistema democrático. Posteriormente, será apresentado um segundo estudo empírico com base no questionário em formato eletrónico desenvolvido pela Prof. Doutora Glória Jólluskin e Adriane Ristori Ferreira, que contou com a participação de 100 indivíduos de nacionalidade portuguesa e teve como objetivo descrever a perceção social da sociedade extramuros sobre a realidade prisional de Portugal. Concluiu-se que a população portuguesa extramuros tem uma visão mais reabilitadora do que punitivista em relação ao sistema prisional, no entanto ainda não consegue visualizar uma sociedade sem essa instituição. Por fim, nesse contexto, a criminologia, com a sua interdisciplinaridade de estudos, com a presença das ciências sociais, humanas, jurídicas e políticas, tem muito a contribuir com essa interface diante da pluralidade de questões cognitivas-estruturais que envolvem a temática. Isso abrange concepções que se fundam na estrutura de uma sociedade e suas idiossincrasias, no desenvolvimento de uma cultura e sua historicidade.
- As perturbações da alimentação e da ingestão: fatores de risco e a sua interação com as características clínicas e psicológicas numa amostra de estudantes universitáriosPublication . Dias, Sofia Miranda; Matos, MartaSegundo a nosologia da psiquiatria americana no Manual DSM-5, as Perturbações da Alimentação e da Ingestão (PAI) são, nos dias de hoje, consideradas uma das disfunções psicológicas mais prejudiciais à saúde humana considerando o sofrimento prolongado que provocam, bem como, as elevadas taxas de mortalidade apresentadas (Mitchell & Crow, 2006). Possuem uma etiologia multifatorial, constituída por predisposições genéticas, socioculturais, biológicas e psicológicas que contribuem para o seu aparecimento e desenvolvimento (Morgan & Negrão, 2022). Ademais, segundo o DSM-5, tanto a Anorexia Nervosa (AN) como a Bulimia Nervosa (BN) têm início tipicamente na adolescência e/ou início da vida adulta (American Psychological Association, 2013), o que nos confirma que as PAI são uma problemática importante a ter em conta quando se fala nestes períodos do desenvolvimento, No que concerne ao início da sua manifestação clínica, os estudantes universitários são a população mais afetada dado à influência de fatores externos como o stress, bem como, o facto de se situarem na faixa etária privilegiada para o surgimento da maioria das perturbações mentais (Fitzsimmons-Craft, Balantekin, Eichen, Graham, Monterubio, Sadeh-Sharvit, Goel, Flatt, Saffran, Karam, Firebaugh, Trockel, Taylor & Wilfley, 2019). Entre os fatores predisponentes, relativamente aos quadros das PAI, destacam-se a história familiar de sintomatologias do mesmo tipo, padrões de interação no núcleo familiar e social, contexto e ideais socioculturais. Na esfera da personalidade, traços como baixa auto-estima aliada a uma distorção da imagem corporal, traços perfecionistas e ascéticos, impulsividade e instabilidade afetiva que, se manifesta em pensamentos/emoções desadaptativas. Além disso, a restrição alimentar e o uso de substâncias e métodos compensatórios revelam a sua importância como acontecimentos antecedentes à instalação de uma PAI (Morgan et al., 2022). Após uma abordagem abrangente dos traços psicológicos das PAI, torna-se necessário investigar uma perspetiva diferencial entre os diversos quadros destas perturbações e respetivas manifestações. Neste sentido, uma melhor compreensão das diferentes manifestações destas perturbações e um melhor desenvolvimento de intervenções no campo mencionado demonstra ser uma questão fundamental para a saúde pública (Galmiche, Déchelotte, Lambert & Tavolacci, 2019; Cororve, Fingeret, Warren, Cepeda-Benito & Gleaves, 2006). O presente estudo tem como objetivo principal contribuir para a caracterização dos fatores de risco (FR) associados ao desenvolvimento de uma PAI, abrangendo as respetivas características clínicas e psicológicas destes quadros sintomatológicos. Desta forma, conta com uma amostra de 38 participantes, ingressados no ensino superior, em que 55,3% são do género feminino e 44,7% do género masculino, com uma média de idades de 19,21 (DP= 0,811). Os resultados indicam que os FR individuais foram mais prevalentes na amostra estudada, enquanto que, os FR socioculturais foram os menos relevantes. Ainda, constatou-se que, os FR Autoestima e o FR Apoio Social revelam uma correlação negativa face a possibilidade de estarmos perante uma PAI, sugerindo assim, uma possível função protetora. Por fim, foi possível averiguar que todos os FR associados ao desenvolvimento de uma PAI, se encontram relacionados com pelo menos 2 características clínicas e psicológicas descritas, em indivíduos com os quadros psicopatológicos estudados, à exceção do FR Autoestima. Esta informação sugere que, este FR poderá apresentar um contributo associado a uma função protetora face à instalação das condições abordadas.
