Browsing by Author "Rocha, Bruno Filipe Castro"
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- Refugiados e retóricas nacionalistasPublication . Rocha, Bruno Filipe Castro; Toldy, Teresa MartinhoA vaga de migração humanitária para o continente europeu tem sido vista como um dos maiores desafios políticos para a União Europeia e os respetivos Estados-membros. O período de crise humanitária, correspondente ao grande exercício migratório da última década, ficou conhecido como uma crise de refugiados. O termo utilizado para descrever a emergência humanitária serve de preâmbulo para retratar a perceção europeia em relação ao significado desta emergência. Não só passou a ser debatido qual o grau de responsabilidade europeia, como imediatamente surgiu uma dualidade de retóricas, na qual se passou a defender, por um lado, tratar-se de uma vaga de migração económica, e de forma oposta, tratar-se de uma emergência humanitária. A opinião das sociedades europeias só converge na catalogação do problema como complexo. Através da utilização de uma retórica antagónica à crise, partidos e figuras políticas de extrema-direita emergiram como vozes defensoras de valores europeus e, consequentemente, nacionais, que consideram estar em risco por requerentes de asilo. A procura de preservar uma herança de valores europeus históricos provocou uma chamada de atenção para perceber qual é, de facto, a herança de valores históricos que precisa de ser preservada. A resposta obriga a um recuo na história europeia, nomeadamente a do século XX. Vítimas e agressores concentraram-se na Europa numa época que ficou marcada por regimes autoritários, que causaram, eles próprios, uma vaga de refugiados. O grande regime de tirania sobre grupos desassociados dos valores culturais do grupo dominante encontra-se no nazismo. A segregação institucional e o extermínio derivam de uma cultura de antissemitismo. Esta memória coletiva é atualmente colocada em causa, não apenas pela indiferença que voltou a surgir após a migração humanitária da última década, mas também pela permissividade concebida a partidos de extrema-direita. Não se passou apenas a assistir ao crescimento destes partidos. A corrente política mainstream passou a incorporar uma retórica que se alinha com ideias da extrema-direita. A narrativa nativista reemergiu, numa altura em que a herança coletiva europeia deveria sugerir o contrário. O debate sobre a necessidade ou não de redução dos elevados números de migração involuntária a que se assistiu em 2015 expôs o crescimento da islamofobia. Para além dos discursos e das práticas relativas refugiados e migração, uma crise humanitária prevalece.