Browsing by Author "Sousa, Juliana Sofia Pinto de"
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- Epidemiologia, etiopatogenia, diagnóstico e tratamento farmacológico da depressão em PortugalPublication . Sousa, Juliana Sofia Pinto de; Queiroz, JoanaPortugal apresenta uma prevalência elevada de perturbações depressivas, em que cerca de um quinto dos portugueses apresenta ou já apresentou algum episódio depressivo ao longo da vida. Estas perturbações, ao se associarem a elevados e prolongados gastos com medicamentos, procura dos serviços de saúde e queda de produtividade representam um elevado custo humano e financeiro para o país. Devido à elevada relevância que esta patologia tem no país e, consequentemente, na prática da profissão farmacêutica, este trabalho tem como objectivo explorar a sua prevalência atual, etiopatogenia, classificação, diagnóstico e fármacos mais relevantes utilizados no seu tratamento. As perturbações depressivas fazem parte das perturbações do humor e incluem as perturbações depressivas (e.g. depressão major e distimia) e perturbações bipolares (e.g. perturbação bipolar tipo I e tipo II, ciclotímia). A diferença entre ambas está na unidirecionalidade das perturbações depressivas e a alternância de estados de humor característica das perturbações bipolares. É mais correto falarmos em síndromes depressivas do que em depressão, o que salienta a diversidade de apresentações possíveis, variando quanto à sua génese, gravidade, duração, resposta aos tratamentos e prognóstico. O que une todas as variantes é o sintoma de humor deprimido, vazio ou irritável, acompanhado por alterações cognitivas e somáticas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. A depressão é uma doença multifactorial com condicionantes biológicas (e.g. genéticas, epigenéticas, nutricionais) e sociais que produzem alterações neuroquímicas e estruturais do sistema nervoso central, mais ou menos estáveis, que condicionam as repostas ao meio e se caracterizam por comportamentos específicos. O tratamento de perturbações depressivas envolve abordagens farmacológicas e psicoterapêuticas, tendo ambas efeitos cumulativos. Em depressões menos graves pode ser suficiente o tratamento psicoterapêutico. Porém, em casos moderados a graves a utilização de fármacos é fundamental, quer como agente terapêutico em si, quer por estabilizar psicologicamente o doente e permitir uma melhor intervenção psicológica. Os fármacos utilizados no tratamento da depressão são os chamados antidepressivos. A farmacodinâmica destes medicamentos baseia-se no aumento da disponibilidade de alguns neurotransmissores específicos a nível cerebral. As diversas classes de antidepressivos assentam nas diferentes estratégias utilizadas para modular a concentração daqueles neurotransmissores e incluem: a inibição da recaptação dos neurotransmissores da fenda sináptica (e.g. antidepressivos tricíclicos (ADT), inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), inibidores da recaptação da noradrenalina (IRN), inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina (IRSN), inibidores da recaptação da noradrenalina e da dopamina); a ativação direta de receptores (agonistas dos recetores da serotonina, agonista dos receptores da melatonina); o bloqueio de receptores pré-sinápticos ou pós-sinápticos (efeito partilhado pelas classes anteriores) e a inibição das enzimas metabolizadoras dos neurotransmissores (inibidores da monoamina oxidase (IMAO)). Os diversos antidepressivos podem ser classificados em de 1ª geração (IMAO e ADT) e 2ª geração. Os de 1ª geração são antidepressivos eficazes mas bastante inespecíficos, estando associados a efeitos secundários mais frequentes e graves e, por isso, reservados a casos mais graves ou resistentes à terapêutica. Contudo, o seu baixo preço faz com que ainda gozem de alguma penetração no mercado português. Por outro lado, os fármacos de 2ª geração estão associados a uma menor incidência de efeitos adversos e são, actualmente, os mais utilizados em Portugal. De fato, tem sido notório um aumento consistente de toda este grupo com particular destaque para os ISRS (e.g. fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina) e para os IRSN (e.g. duloxetina e velafaxina). Este aumento terá sido impulsionado pela diminuição dos custos associado a entrada no mercado dos medicamentos genéricos e faz de Portugal um dos países com a maior taxa de utilização de antidepressivos. Em conclusão, as perturbações depressivas, pela sua incidência e prevalência, têm uma marcada relevância em Portugal e representam elevados custos, sendo responsáveis por uma fatia considerável dos gastos com saúde. Um conhecimento abrangente desta patologia, das suas manifestações e dos tratamentos são uma mais-valia para qualquer profissional de saúde, em especial para farmacêuticos, devido à proximidade que têm com os doentes e o papel ativo que exercem no tratamento e acompanhamento destes. Um farmacêutico bem informado é uma peça-chave para o sucesso terapêutico.